segunda-feira, 25 de abril de 2016

MODELO HUMANISTA

Modelo humanista
Quando trazemos o tema: atenção de saúde; estamos abordando todos os aspectos da necessidade de saúde, física e emocional, bucal, alimentar e por que não dizer espiritual, do ser humano. E este é o primeiro aspecto, desde Tomás de Aquino, o ser humano foi DESMEMBRADO, separado, cortado (em todos os sentidos pela inquisição), em resumo, a visão tomista do ser humano. Esta visão particular foi depois reforçada por Sir Isaac Newton, que concebeu o corpo humano como uma MÁQUINA, e finalmente, esquartejado pela visão de René Descartes, que COISIFICOU o ser humano.
Na concepção galênica (Galeno século 2 - ilha de Cnido), também a enfermidade tem uma origem externa ao ser humano. Um indivíduo "pega" a doença do outro e a cura também vem de fora. Aplicações externas, compressas, cataplasmas, pomadas, ungüentos. A concepção de contágio, que é valida para as doenças infecciosas agudas, passou a ser estendida a todas as doenças crônicas. Encontraram-se elementos para se explicar o surgimento das verrugas, das doenças venéreas (e não o comportamento anormal da sexualidade humana, autodestrutiva), até a úlcera gástrica já tem um culpado: uma bactéria, desconsiderando o estresse, a ansiedade, a raiva engolida, a alimentação irracional, a bebida alcoólica e os vários abusos estimulados e permitidos em nossos dias.
Outra questão a ser avaliada é a atitude básica de CURAÇÃO X PREVENÇÃO. Estamos claramente no campo da cura. Como vou evitar (ou prevenir) uma doença que não sei se vou ter? Como vou poder melhorar a qualidade de vida do que vou viver em 5 anos se não sei se vou estar vivo. Então comamos e bebamos porque amanhã morreremos.
Na China antiga o médico era contratado e pago para cuidar da saúde de uma família. Se alguém ficasse doente ele parava de receber. Um modelo como este seria inconcebível nos dias de hoje. Infelizmente sofremos muita influência do modelo norte-americano, da visão de enfermidade e saúde que eles têm. Na odontologia isto é ainda mais gritante, tirar a cárie quando ela aparecer, sem levar em conta o porquê do indivíduo ter adoecido.
Recentemente esta visão foi alquebrada, quando a biocibernética bucal mostrou que existe relação de cada dente com um órgão ou sistema, que muitas emoções se manifestam por questões bucais (caso da Rose L), que uma criança que é amamentada no seio materno terá uma dentição diferente de outra que é amamenta com bico de borracha, e isto acompanhado de um comportamento distinto. Quando "mudamos" um dente de lugar, ou tiramos um dente da boca, certamente isto é acompanhado de mudanças comportamentais. Normalmente para se tomar decisões de intervir levamos em conta muito mais a questão estética do que a funcional. Partimos do pressuposto de que podemos "melhorar" a natureza.
MODELOS DE ATENÇÃO
Então voltando ao tema central, a nossa prática de saúde vai ser uma conseqüência do que pensamos, de nossa visão da saúde, vai ser a exteriorização (sem palavras) de como encaramos a vida e o mundo.
Particularmente, eu encaro que quando alguém tece algum comentário sobre outra pessoa, ele está falando mais de si mesmo que do outro. Ele se projeta nos seus comentários, no que o incomoda no outro, geralmente ligado ao que incomoda nele mesmo. Para o observador atento, nada deve escapar à observação.
MODELO TECNOCRÁTICO
A brilhante Robbie Davis-Floyd trouxe em novembro de 2000, em Fortaleza, na Conferência Internacional de Humanização do Nascimento, o conceito de três modelos básicos de atenção de saúde: o primeiro e mais divulgado é modelo tecnocrático, ou cartesiano.
Nesta visão de mundo há uma separação distinta entre mente e corpo, o corpo como máquina, e o paciente como objeto. Na faculdade de medicina, não é raro escutar: "você já viu aquele câncer de ovário na enfermaria 2?" Aliás, as faculdades são as maiores perpetradoras deste modelo que eu chamaria IMPERIALISTA de atenção médica. Onde o terapeuta está separado do paciente. Melhor médico será aquele que mais souber usar de recursos tecnológicos, curando de fora para dentro, intervenção agressiva. Aumentar a longevidade sem se importar com a qualidade de vida. Meu tio Zé tinha uma forma de arteriosclerose progressiva, que levava a necrose de extremidades, agravadas pelo fumo que ele nunca foi convencido a deixar, quando se decidiu amputar suas pernas e ele nem saiu do hospital. Quantas vezes não vemos tratamentos agressivos de câncer para se prolongar alguns dias de vida, mesmo que a pessoa permaneça sem consciência. A morte é vista como uma derrota. Vamos "lutar" contra ela.
O "paciente" é cuidado, e não se cuida. É curado e o mérito vai para o provedor da atenção. Ele não tem direitos. Semana passada marquei uma cesárea em um caso de oligoamnio importante, era sexta-feira à noite. Eu sugeria o sábado pela manhã mas a grávida disse que não queria no sábado. Eu concordei, explicando que ela poderia esperar mais um dia, desde que não entrasse em trabalho de parto. Liguei para o anestesista para combinar a cirurgia, e ele disse: "porque você concordou com ela? Paciente tem simplesmente que obedecer à decisão do médico, e acabou!!!" Sem discordar dele, apenas disse que todas as pessoas têm motivos para suas decisões, e que não sendo imperativo, se possível, devemos atender. Esta seria uma abordagem autoritária. Hierarquia. Desprezo pela influência do emocional. Outra coisa, porque o marido não é aceito em sala cirúrgica? A resposta de que vai contaminar não convence. Se fosse assim, ninguém mais andaria de carro, visto que uma pessoa já morreu de acidente, isto significa que NINGUÉM mais vai poder andar? Se uma pessoa desmaiou e perturbou a cirurgia, não significa que isto deve ser banido.
De qualquer maneira, o principio básico se resume no conceito de separação. Pensamento uni-modal e racional-lógico ou do hemisfério esquerdo cerebral. Pensamento linear.
MODELO HUMANISTA
Já no modelo humanista, também chamado de bio-psíquico, como o próprio nome diz, há uma ligação entre mente e corpo. Há uma influencia do que se sente e do que se pensa sobre a saúde, sobre o que acontece no corpo. Neste caso um susto pode ser a causa de um aborto. Uma noticia ruim pode ser a causa de um derrame, e um excesso de alegria, como no fim do filme "Como água para Chocolate" pode ser a causa de um enfarte do miocárdio.
O enfermo se relaciona com sua enfermidade, assim como se relaciona com seu meio ambiente e equipe terapêutica. Ele interage com o que o rodeia. Neste caso se ele disser que prefere não tomar aquela droga e sim tentar um fitoterápico ou um cházinho, isto não vai ser viso com escárnio. Escárnio este que desconsidera que a grande maioria do arsenal terapêutico moderno vem das plantas ou são sintetizados em laboratório, a partir de substancias naturais. Desde a digitalina, o antibiótico extraído dos fungos, os hormônios extraídos dos cactos e atualmente do germe da soja, os anestésicos a base do ópio (opióides), o corticóide como base, o cortisol humano, o acido acetil salicílico retirado da casca do salgueiro, a ergotamina extraída do esporão do centeio, desde a Idade Média, e assim por diante.
Nesta visão de mundo a doença acontece de dentro para fora. Aqui a medicina psicossomática tem algum sentido. Um indivíduo que teve um câncer de próstata há 10 anos e volta a ter câncer, desta vez de pulmão, não voltou a adoecer por "metástase", mas porque teve uma grande tristeza e isto fez seu sistema imunológico deixar de reconhecer as células cancerosas e deixar de destruí-las.
Na questão bucal, vamos orientar as famílias nos hábitos alimentares para melhorar a saúde, e evitar doenças. O foco na prevenção e o alvo de cárie zero até os 10 anos de idade. O preço a ser pago por isto? Não irá tirar os dentes do siso, mas sim abrir espaço e criar condições para que eles venham para fora. Não é por acaso que estes dentes vêm a tona na transição da adolescência para idade adulta, a sabedoria, a complementação da personalidade, a segurança para a vida futura, a ajuda para a passagem, para o responsável mundo adulto e, finalmente, a capacidade de se encontrar por inteiro ou se satisfazer na vida, ou, caso sejam tirados, deixar aquela horrível sensação que por mais que se tenha ou saiba, nunca é o bastante para o fazer feliz e satisfeito.
A morte é um resultado aceitável. Acabou. O objetivo é morrer com saúde, com dignidade, e se possível na sua própria casa, e não em uma UTI, ligado a vários aparelhos, abandonado e longe de seus amados. Devemos ter uma passagem tranqüila. Nunca me esqueço de uma paciente que pegou SIDA (AIDS) de seu marido, que provavelmente era bissexual, e fazíamos um tratamento homeopático. Ela se tratou por sete anos, mas depois disto, sua saúde começou a degringolar e foi emagrecendo. Como eu não tinha recursos, nem terapêuticos nem técnicos para trazer-lhe algum alivio, covardemente acabei encaminhando-a para um hospital universitário. Ela morreu lá. A filha tinha 17 anos e a mãe 79. Eu devia ter perguntado a elas o que queriam fazer e tomarmos a decisão juntos. Talvez eu estivesse com medo de assinar o atestado de óbito ou com receio de admitir a limitação da medicina a que eu me propusera... talvez... tenha faltado sentimento, coragem. Compaixão.
Neste modelo de atenção colocamos a terapia floral, a fitoterapia, as terapias psico-físicas, e outras. O equilíbrio é o alvo maior. Equilíbrio orgânico e emocional. Neste modelo a intuição vale alguma coisa. Certa vez eu sonhei que ia realizar a cesárea de uma grávida, que tinha tido uma gravidez difícil e complicada e ela veio para a consulta e eu contei-lhe o sonho, Tinha 38 semanas, ou seja, o nenê estava pronto para nascer. Ela concordou e assim o fizemos. Imagine se o anestesista me perguntasse a indicação da cirurgia e eu lhe dissesse: "foi um sonho", ele me internaria. Isto é o que chamamos de pensamento bi-modal, raciocínio lógico e intuição juntos. Razão e emoção.
MODELO HOLÍSTICO
Também chamado de modelo bio-psico-social, no qual o ser humano é encarado como tendo não somente corpo e mente, mas também espírito. Na homeopatia é chamada de energia vital, ou força vital. Na medicina chinesa denominada de "Tchi", na indiana de "Prana", outros também a descreveram como "Reich", "Young", etc. O corpo é um sistema onde vários fluidos circulam: sangue, linfa, mas também circula uma energia (eletromagnética), que no caso da medicina chinesa, circula nos meridianos, erroneamente traduzidos, sendo que a melhor tradução seria do chinês: canais de energia.
Os antigos sabiam da interação do ser humano com os astros, como por exemplo, com a lua, influenciando o comportamento da mulher com o ciclo menstrual de 28 dias, ciclo da lua. Também usamos a expressão, que a pessoa "é de lua", ou seja, que não se pode prever seu comportamento. Os antigos que ficavam loucos eram conhecidos como lunáticos.
Hoje em dia está mais que comprovada a interação do indivíduo com o todo que o cerca, com as discussões que acontecem ao seu redor, com as dificuldades no trabalho, com as emoções e as decepções afetivas. A homeopatia tem este modelo há 200 anos. E justamente surgiu de uma pessoa que não aceitou a medicina agressiva e ineficaz de sua época, chamada de medicina oficial ou alopatia, que ainda continua sem uma filosofia (além do materialismo), e bastante agressiva. Na época, ela se baseava em catárticos, enagogos, sangrias, entre outros (George Washington foi morto pelos médicos, depois da terceira sangria... era tudo que tinham para oferecer ao eminente presidente norte americano). Samuel Hahnemann conseguiu erigir um edifício terapêutico baseado na lei dos semelhantes, ou seja, "a substância que tem a capacidade de originar ou desencadear um determinado sintoma ou doença em um indivíduo, tem a capacidade de curar este mesmo sintoma ou doença quando este se manifestar patologicamente, substituindo a doença natural real por uma doença medicamentosa virtual curativa".
Alguns homeopatas como James Tyler Kent, no final do século XIX, nos Estados Unidos, influenciado por filósofos como Swenderborg, diziam que a doença procede do pecado, de um comportamento inadequado, de uma doença da alma. Na atualidade, temos ainda um representante desta linha com o Dr Mazi Elizaldi da Argentina.
No caso da odontologia, temos a informação da medicina chinesa na qual a língua tem relação com vários órgãos: na parte posterior sabor doce e relação com o baço/pâncreas; nas laterais, sabor ácido, relação com o fígado, na ponta da língua relação com o coração, ao centro sabor salgado e relação com o rim.
Quase todos os meridianos têm um ramo para a cabeça e para a boca. Principalmente o intestino, o estômago e o fígado. Hálito forte pode ser relacionado com um fígado ruim. O fígado está muito relacionado com as emoções. Particularmente a raiva. Aquilo que se tem que engolir, os sapos da vida...
O processo de adoecimento do ser humano ainda não foi compreendido pela medicina alopática, que relaciona as doenças com os agentes patógenos microbianos, que nesta vertente da medicina, o indivíduo adoece de dentro para fora. Primeiramente o interior, a emoção, e depois o corpo. Conheço um médico que teve câncer duas vezes. Na primeira, ele, que é português, viu um filho seu ser preso pela polícia em praça pública, por drogas. Dois dias depois ele manifestou um câncer. Outra paciente minha desenvolveu um câncer de mama depois que sua mãe morreu. São tantos os exemplos que todos devem conhecer alguém que ficou doente depois de uma perda, de um ciúme, ou outra emoção forte.
Pela lei de cura enunciada pelo Dr Constantino Hering, alemão, o indivíduo se cura de dentro para fora, de cima para baixo, na ordem inversa do aparecimento de sua doença. Ou seja, se damos um medicamento, e o indivíduo melhora do emocional, passa a suportar melhor sua doença, mesmo que ela tenha agravado, ele está no caminho da cura.
A ciência e a tecnologia à serviço do indivíduo como um todo. O enfoque básico destas medicinas suaves está na manutenção da saúde e de se prevenir os desacertos do futuro. Como? Trabalhando nas variáveis que influenciam a saúde: alimentação, atividades físicas, práticas de relaxamento, equilíbrio emocional, mudança da postura em relação à vida, passando de passivo a participante de sua vida, deixando de "guardar" as emoções para a adequada colocação de suas percepções.
Nesta abordagem e vivência de mundo a morte é um passo no processo, algo passível de acontecer e que significa uma passagem. Conheço um casal que teve um parto de gêmeos. O primeiro nasceu fácil, rápido, quase caiu no chão, o segundo demorou, demorou, e finalmente quando foi feita uma cesárea, nasceu em péssimas condições, sobreviveu durante 5 dias e partiu. O casal acabou consolando o médico. Ela já tinha outros 2 filhos. Um deles, de 4 anos disse: "mãe você está com um irmãozinho na sua barriga!" -- Que besteira menino... E não deu outra. Depois ele disse, antes da ecografia confirmar que era menino, e eram dois! No final da gestação ele perguntava: "mãe, você pode voltar com um nenê e deixar o outro no hospital? Pode nascer um e o outro morrer? E outras perguntas, que foram aos poucos, "preparando" a mãe para, o que parece, já estava previsto acontecer. Dr Adailton Salvatore Meira é médico ginecologista e obstetra.

Dr Adailton Salvatore Meira é médico ginecologista e obstetra

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