Manifesto da Sociedade Civil Organizada contra a Campanha de
Mídia para o Carnaval sobre a prevenção das DST/ Aids
Ex.mo
Sr. Humberto Costa
Ministro
da Saúde
Depois
de muitos anos envolvidos na reafirmação das lutas sociais, estamos,
finalmente, diante de um novo governo
que apresenta uma nova proposta de gestão que se posiciona em consonância com
os anseios de uma sociedade mais democrática, respeitando os propósitos de
efetivação dos Direitos Humanos.
Sabemos
que a população jovem e de mulheres tem sido bastante atingida pelo aumento da
infecção do HIV e que as políticas de educação em saúde não tem sido
suficientemente exitosas para um controle da disseminação dessa epidemia.
Acreditamos nas estratégias adotadas e do compromisso da
Coordenação Nacional de DST Aids para um efetivo programa de controle da epidemia da Aids. No entanto,
no dia 04 de fevereiro de 2003, os Fóruns, Redes, representantes da CNAIDS e do
Conselho Nacional de Saúde que atuam na
luta contra a epidemia da Aids, reunidos com a CN DST/Aids, receberam com surpresa a apresentação da
Campanha para o Carnaval que será veiculada na segunda semana de fevereiro
pelo Ministério da Saúde, cujo o slogan
é: “ sem camisinha, só olhando, baba
baby” que tem como objetivo alertar a população jovem feminina sobre a
importância de se prevenir da infecção pelo HIV.
Nossa
surpresa coletiva deve-se ao fato de que a personagem que protagoniza a
Campanha é a cantora Kely Key , utilizando uma parodia de sua música “ Baba
Baby”, que entendemos não contribuir
para a adoção de atitudes positivas em relação ao uso do preservativo pela
população de mulheres e homens jovens que se encontram vulneráveis a infecção
pelo HIV.
Compreendemos
a importância que as campanhas de carnaval tenham um apelo popular e de grande penetração,
contudo, questionamos o perfil da artista escolhida, por estar agregado a sua
imagem valores que procuramos desconstruir cotidianamente nas últimas décadas,
como “objetificação” do corpo, sobretudo o da mulher e o desrespeito das relações
amorosas, sexuais e afetivas.
Na
luta pela efetivação de direitos os movimentos sociais conseguiram grandes
vitórias, seja na pauta do movimento de mulheres pelos direitos reprodutivos e
direitos sexuais, seja na pauta do movimento homossexual pelo avanço dos
direitos culturais pela diversidade e pluralidade, seja no movimento Aids para
garantir uma vivência digna e com
usufruto de todos os direitos constitucionais.
Esses movimentos construíram alguns consensos nas
suas lutas e um deles é o incondicional direito de respeito ao corpo e a vivência da sexualidade como uma postura
política de que esse corpo não pode ser tratado como objeto. A mídia cotidianamente desrespeita
esse direito. As campanhas de prevenção das DST Aids recorrentemente se utilizam
das “armadilhas da mídia” para vender idéia social como se fosse objetos.
O bem
social, não tem preço. A artista que está sendo protagonista dessa nova
campanha de carnaval traz em sua imagem contradições para nossa luta. São
valores que não constróem, nem respeitam uma visão política do mundo e
suas relações de gênero. É perversa com
as/os jovens quando vende um modelo de
sucesso e modo de vida baseada no consumo e na futilidade. A imagem da Kely
Key propõe uma pseudo liberdade sexual,
onde o homem é o oprimido e a mulher é a opressora. Acreditamos não ser essa a
proposta de homens e mulheres que querem uma sociedade mais equânime e mais
respeitosa.
Pedimos então uma imediata suspensão da Campanha,
afirmando que caso seja veiculada é um grave depoimento contra anos de luta e
de trabalho de ativistas do movimento de mulheres, movimento homossexual,
movimento de luta contra Aids, profissionais de saúde e pessoas que vivem com
Aids. Não é uma imagem fútil e machista que queremos apresentar para a sociedade
brasileira e para o mundo.
Considerando
que a sociedade civil organizada não foi consultada para aprovação dessa
campanha, sugerimos, que caso não se tenha tempo de elaborar uma nova
campanha, seja reutilizada campanhas
anteriores, que provavelmente causará
menor prejuízo na luta contra a epidemia da Aids.
Reafirmamos
a importância de mantermos o pacto de diálogo da parceria SCO e governo que tem
dado respostas tão eficazes, e solicitamos que campanhas como essa sejam
apresentadas previamente as instâncias da sociedade civil organizada
legitimamente constituídas para tal finalidade.
Acreditamos no compromisso desse governo, do compromisso
do Sr. Ministro da Saúde, de sua equipe e em particular a Coordenação Nacional
de DST/ Aids em não permitir a veiculação e distribuição dessa campanha.
Representantes da Sociedade Civil presentes na reunião dos
Fóruns de Ong Aids com a CN DST/ Aids em 04 de fevereiro de 2003.
Fórum de Ong Aids
AM – Laurinha de Souza
Fórum de Ong Aids
BA – Jávier Angonoa
Fórum de Ong Aids
DF – Ana Paula Prado
Fórum de Ong Aids
PR – Toni Reis
Fórum de Ong Aids MG – Beatriz Caetano
Fórum de Ong Aids
MT – Clovis Arantes
Fórum de Ong Aids
SP – Américo Nunes
Fórum de Ong Aids
SC – Elvio J. Bornhausen
Fórum de Ong Aids
CE – Francisco Orlaneudo
Fórum de Ong Aids
PE – Jair Brandão
Fórum de Ong Aids
RS – Julio Orviedo
Fórum de Ong Aids
PB – Maxwell Castelo Branco
Fórum de Ong Aids
RJ – Roberto Pereira
Fórum de Ong Aids GO – Ruth Valderez
Fórum de Ong Aids
RN – Wilson Dantas
Comissão Nacional de Aids
Centro Oeste – Liorcino Mendes (62) 9258355
Sudeste – Gil Casimiro ( 11) 50840255
Norte – Guilherme
Roberto (91) 2111285
Nordeste – Solange
Rocha (81) 34452086
Sul – Alexandre
Martins (48) 2249235
Conselho Nacional de Saúde
Representação do
Movimento Nacional de Aids – Carlos Duarte
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